Brasil no Mercado Sucroenergético: Desafios e Oportunidades em um Setor em Transformação
A edição do dia 02 de Outubro de 2024 do Café com Bioeconomia reuniu Jaime Finguerut, Diretor e membro do conselho do Instituto de Tecnologia Canavieira; Paulo Costa, CEO da House of Carbon; e Dr. Luis Adriano Nascimento, da Universidade Federal do Pará. O encontro, que acontece a cada três semanas, foi mediado por Meire Ferreira (Instituto SENAI de Inovação em Biossintéticos e Fibras).
O Brasil solidifica sua posição como um dos principais players do mercado sucroenergético, ocupando a segunda posição na produção de etanol. De acordo com Jaime, o setor canavieiro representa cerca de 2% do PIB brasileiro, comparável à indústria do plástico, tendo proporcionado milhares de oportunidades de empregos. No entanto, apesar desses números relevantes, o setor ainda enfrenta desafios quanto às novas demandas e exigências do mercado e, dentre essas, tem-se a descarbonização.
Inovações e Sustentabilidade
Paulo enfatiza que coprodutos como a vinhaça e o bagaço estão sendo cada vez mais valorizados, contribuindo para um aumento de receita de até 15%. Antes considerados passivos ambientais, esses resíduos agora são utilizados com soluções biotecnológicas, e na produção de biofertilizantes e etanol de segunda geração, por exemplo.
Segundo Jaime, o potencial produtivo da cana pode chegar a 200 toneladas por hectare, uma capacidade ainda não totalmente explorada. A biorrefinaria de cana-de-açúcar se destaca pela eficiência em termos de fotossíntese e uso de água, apresentando uma pegada ambiental menos significativa em comparação a outras culturas. Ele destaca que a capacidade de descarbonização da cana pode alcançar 160 g de CO₂ por hectare ao ano, especialmente com o desenvolvimento de mioproteínas microbianas.
Adriano acrescenta que, embora o hidrogênio verde tenha se destacado nas últimas décadas, é importante também considerar os combustíveis tradicionais. Para ele, existem muitas oportunidades biotecnológicas no aproveitamento de resíduos para a produção de biocombustíveis. Embora a substituição total do petróleo não seja viável, muitas alternativas podem otimizar o uso de grande parte desse recurso. Ele também destaca o papel do RenovaBio em fomentar novas opções, como o biogás e biofertilizantes, e aponta para o potencial das ligninas e celulose. Para esses desenvolvimentos, é fundamental continuar as políticas de incentivo e fomentar a pesquisa.
O Papel do RenovaBio
O programa RenovaBio é visto por Paulo como fundamental para a certificação e transparência do setor, oferecendo créditos de descarbonização que funcionam como uma commodity. Contudo, recentemente, a mídia tem discutido sobre a necessidade de revisar o RenovaBio. Dentre os motivos, entidades que representam as distribuidoras não consideram que programa governamental tenha um viés ambiental. Além disso, o CBIO não seria um título de carbono, pois o crédito não cumpriria com vários preceitos inerentes a estes papéis, tais como adicionalidade e fungibilidade.
Embora existam críticas sobre a eficácia do programa, o RenovaBio atende às demandas do mercado, especialmente o europeu, que valoriza a rastreabilidade da matéria-prima. Ele ressalta a importância de integrar processos na biorrefinaria para maximizar as eficiências energética e ambiental. Paulo abriu a discussão para sobre o processo de descarbonização do setor de Gás Natural e sobre qual seria o melhor modelo para a regulamentação do Programa Nacional de Descarbonização do Produtor e Importador de Gás Natural e de Incentivo ao Biometano - sendo esse modelo baseado no RenovaBio.
Desafios e Futuro do Setor
Além dos já citados, Adriano mostra que os desafios podem ser encarados como uma janela de oportunidades no que tange os incrementos de produção e produtividade da cultura. O professor traz uma reflexão sobre a potência brasileira em desenvolvimento de pesquisas em bioinsumos e bioprodutos. O uso de bioinsumos na cana-de-açúcar é capaz de promover a diminuição da dependência de insumos químicos, gerando uma série de benefícios, tais como o aumento da fertilidade do solo e a diminuição de custos. Entretanto, fatores como a necessidade de conhecimento técnico podem dificultar sua adoção. Adriano também aponta que os desafios para o setor incluem aumentar a produtividade da cana, reduzir custos e aperfeiçoar a regulamentação. Ele acredita que a conectividade entre os diferentes atores do mercado e o aprendizado contínuo são essenciais para que o Brasil possa competir mais eficazmente no cenário global.
Com um horizonte que inclui a implementação de novas tecnologias e inovações, o futuro do mercado sucroenergético brasileiro parece promissor, mas repleto de obstáculos que exigem estratégias bem definidas e investimento contínuo. O setor não apenas se posiciona como uma alternativa viável aos combustíveis fósseis, como também desempenha um papel crucial na mitigação das mudanças climáticas. Além de estar no topo em termos de produção mundial, o etanol brasileiro contribui para a transição energética e a mitigação dos gases de efeito estufa (GEE), já qua sua queima emite menos poluentes; enquanto as plantas
utilizadas para sua produção absorvem CO₂ durante o crescimento, ajudando a compensar as emissões. Além disso, é um combustível sustentável que incentiva práticas agrícolas igualmente sustentáveis, integrando-se bem com outras fontes de energia renovável para um sistema energético mais diversificado e resiliente.
O Café com Bioeconomia é um evento on-line e interativo, no qual palestrantes e público discutem temas relevantes para a área. Quer receber nossa agenda e participar? Inscreva-se em: https://portaldebioeconomia.com/